quarta-feira, janeiro 30, 2008

Morro do Castelo

Foi, inicialmente, chamado de Descanso, depois, de São Januário. Do Castelo passou a ser após a construção da fortaleza em seu cume.

O primeiro acesso era pela Ladeira da Misericórdia, cujo início existe, até hoje, junto à igreja de NªSª de Bonsucesso. Mais tarde veio a ter mais dois acessos: a Ladeira do Seminário (do Poço do Porteiro, da Mãe do Bispo ou da Ajuda), que vinha de onde hoje fica os fundos do Museu Nacional de Belas Artes, e a chamada Ladeira do Colégio (do Castelo, do Cotovelo ou do Carmo), que ficava no prolongamento da Rua por detrás do Carmo (hoje Rua do Carmo) e ia dar no Colégio dos Jesuítas.

O local não poderia ter sido melhor quando, em 1567 o governador Mem de Sá ordenou a mudança. Do local era possível ver não só a entrada da barra como toda a extensão da baía. Prédios importantes foram construídos e que resistiram até o arrasamento do morro, no início do séc.XX. A fortaleza de S.Sebastião, a igreja consagrada ao mesmo santo, a casa da Câmara, o colégio e a igreja dos jesuitas destacavam-se entre o casario dos primeiros habitantes. A igreja dos jesuítas tinha sobre a porta a inscrição 1567, ano em que se iniciou sua construção.

A expulsão dos jesuitas, ordenada pelo marquês de Pombal e executada pelo conde de Bobadela em 1759, ocasionou a transformação do prédio que era colégio em um hospital militar e a igreja em capela do hospital; a seu lado, nas bases de uma nova igreja não concluída, foi instalado um observatório astronômico. Havia, ainda, um posto de sinais para comunicação com as fortalezas e os navios.

Coube ao prefeito Carlos Sampaio decretar, em agosto de 1920, o fim do morro do Castelo. No dia 1º de novembro de 1921 celebrou-se a última missa na ig de São Sebastião, ocupada pelos «barbadinhos». As lendas sobre tesouros escondidos pelos jesuítas que, ao sairem apressados, teriam deixado enterrados no morro, foram se dissipando à medida que o desmonte prosseguia.

As obras que deveriam estar terminadas para a Exposição do Centenário da Independência, só vieram a ser concluídas anos mais tarde. A área resultante do desmonte, num total de 184 mil metros quadrados, passou a ser conhecida por Esplanada do Castelo.

A terra obtida do desmonte foi utilizada para a formação da Av. Beira-Mar, do aeroporto Santos Dumond, e do bairro da Urca.

A foto maior mostra a Ladeira do Colégio na encosta do Morro do Castelo (repare, à esq., a igreja de São José); no desenho vêem-se os três acessos ao alto do morro; na foto aérea, de 1934, é possivel identificar o Theatro Municipal e a Av. Rio Branco e ver parte da Esplanada; na última foto, outro aspecto da Esplanada vendo-se, ao longe e pelos fundos, a igreja de Sta Luzia.


quarta-feira, janeiro 23, 2008

Rua da Assembléia


Por muitos anos foi Rua da Cadeia porque para ela se abriam as janelas da prisão da cidade, no térreo do edifício da Câmara. Foi Rua de Manoel Brito, que nela teve um negócio de pastéis. Foi caminho para São Francisco por causa de um cruzeiro dedicado ao santo, que existia no Largo da Carioca, em frente ao Convento de Santo Antonio. Foi ainda Rua do Padre Bento, que ali residiu no final do Sec XVII. Finalmente, passou a ser chamada de Rua da Assembléia por motivo da instalação da Assembléa Geral Constituinte e Legislativa convocada por decreto de 3 de junho de 1822 do ainda Príncipe Regente D. Pedro, graças ao movimento independentista do Rio, liderado por Gonçalves Ledo e cujo centro de irradiação era o Senado da Câmara, então funcionando no consistório da Igreja do Rosário.

Nessa Assembléia concorreram, como deputados pela Província de Minas Gerais, José de Rezende Costa Filho e o padre Manoel Rodrigues da Costa, dois dos inconfidentes que, trinta anos antes, estiveram presos no mesmo prédio.

O Decreto de 1921, que alterou o seu nome para República do Peru, foi revogado em 1937, para que voltasse a ser da Assembléia, nome consagrado pelo povo.

A foto mostra a cadeia velha, no prédio que antecedeu o Palácio Tiradentes que hoje conhecemos. O local é ocupado desde o séc XVII, quando os vereadores decidiram abandonar o Morro do Castelo, e construir uma nova câmara na, então, Rua da Misericórdia, perto da Igreja de São José.

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Numeração dos prédios











Os prédios no Rio de Janeiro _e em muitos outros lugares_ não tiveram numeração durante muito tempo. As cartas chegadas à cidade vinham endereçadas a Fulano "que mora perto da Igreja da Cruz" ou a "Chico, Açougueiro da Rua do Sabão", como nos conta Charles Dunlop.

Mais tarde, as casas passaram a receber números colocados à esmo, ou na ordem cronológica de sua construção, sem qualquer método. O prédio 412 da Rua da Alfândega, foi, por muito tempo, fronteiro ao de nº 1 que, por sua vez, ficava na mesma calçada que o de nº 210.

Essa balbúrdia perdurou até que Clemente Ferreira França, Ministro da Justiça, instituiu, por Aviso de 21 de maio de 1824, um sistema de numeração proposto pelo arquiteto Pedro Alexandre Cavroé. É de se notar que o primeiro sistema de numeração de prédios surgiu em Paris, na década de 1780.

O sistema adotado no Rio previa a colocação dos números pares à direita, e ímpares à esquerda de quem desse as costas para o início da rua. Nas ruas paralelas à orla, desde São Bento até o Calabouço, os números eram verdes sobre fundo amarelo; e, nas perpendiculares, a partir da orla, amarelos sobre fundo verde.

A vantagem anunciada era a facilidade de orientação dos transeuntes, mas parece que, na verdade, o propósito era um melhor controle da taxação da décima-urbana (o imposto predial da época).

A numeração então adotada foi bastante elogiada. Dela resultou o sistema atual em que a quase totalidade das ruas da cidade do Rio de Janeiro é orientada do centro para a periferia, e da orla para o interior, e os números pares ficam sempre do lado direito e os ímpares do lado esquerdo. A Av. Atlântica, por exemplo, é uma que segue a numeração métrica, isto é, o prédio 2616 fica a cerca de 2,6km a contar da Praça Almirante Júlio de Noronha, no Leme, início da contagem. A Av. NªSª de Copacabana (que se inicia na rua Antonio Vieira), não obedece a este padrão métrico. As avenidas Epitácio Pessoa e Borges de Medeiros começam no Jardim de Alá e seguem, cada uma por um lado, pela orla da Lagoa Rodrigo de Freitas, até terminarem nas cercanias do Humaitá; os prédios da Epitácio só têm números pares; e os da Borges, números ímpares, exceto o da sede Esportiva do Clube Naval, na Ilha do Piraquê, que leva o número 2364.(O endereço do Clube Caiçaras é Epitácio Pessoa, s/n.)

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Rua Gustavo Sampaio


Inicialmente chamada de Rua Bernardo de Vasconcellos, ia apenas até a Rua Anchieta. Foi oficialmente inaugurada em 1894 quando recebeu os trilhos da Cia. Ferro-Carril Jardim Botânico, embora tivesse sido projetada 20 anos antes, e em 1879 já possuísse 18 casas. Como resultado dos melhoramentos feitos pelo Prefeito Pereira Passos, foi prolongada até a Praça do Vigia (atual Julio de Noronha), recebeu uma nova estação de bondes e um restaurante, o que propiciou o aumento da procura e a construção de novas moradias.

Conta-nos Brasil Gerson que as passagens de bondes continham versos enaltecendo o bairro, como, por exemplo:


"Pedem vossos pulmões ar salitrado.

Correi, antes que a tísica os algeme,

Deixai do Rio o centro infeccionado,

Tomai um bonde que vá dar ao Leme."

Recebeu a denominação atual em 31 de outubro de 1917, por Decreto municipal de nº. 1.165, em homenagem a Gustavo Sampaio, tenente de Exército, morto com a guarnição da peça que comandava na Fortaleza da Laje, durante a Revolta da Armada (revolução de 1893 contra Floriano Peixoto). É considerado um herói florianista.

Em 1920, a rua já exibia 103 construções. Hoje, abriga prédios de apartamentos em toda a sua extensão, e comércio que atende a todo o bairro do Leme, muito diferente do início do séc. XX quando fora dominada por casas e bangalôs.

As fotos (de Gutierrez) mostram a Fortaleza da Laje durante a Revolta da Armada, cenário que vitimou Gustavo Sampaio. E o cartão postal exibe uma vista da rua no início do século passado.



quarta-feira, janeiro 02, 2008

Os tigres do Rio

Lei de 1853 concedeu a John Frederick Russel, súdito britânico e major de nossa Guarda Nacional, o privilégio exclusivo de, por 90 anos, "construir e estender todas as obras necessárias para o estabelecimento de um sistema completo de despejos e esgotos das habitações, semelhante ao adotado na Inglaterra". De fato, à época, o serviço de esgoto só existia em Londres e Hamburgo, além de pequena área em Nova York.

O concessionário gozava de isenção de impostos de importação do material necessário, e direito de exportar, sem impostos, todo o estrume que resultasse do tratamento em suas máquinas. Entretanto, as obras só se iniciariam em fevereiro de 1862 quando a concessão foi transferida para a The Rio de Janeiro City Improvements Co., Ltd., que ficou conhecida como a CITY.

Até então, os dejetos eram guardados nas residências, em barris. A remoção dos barris cheios se fazia, normalmente à noite, quando escravos, carregando os barris à cabeça, cruzavam a cidade até terrenos baldios ou o mar, onde a imundície era despejada.

Um comerciante inglês que viveu no Rio entre 1808 e 1818 relata que, em muitos casos, esses barris eram esvaziados diariamente, em outros, apenas uma vez por semana, dependendo do número de escravos disponíveis (e, necessariamente, da quantidade de usuários do mesmo barril). Se ocorresse desabar uma chuvarada, a carga era despejada em plena rua, deixando-se, à enxurrada, a tarefa de levá-la ao mar.

O conjunto escravo-barril era apelidado de tigre, em razão do aspecto dos carregadores. Transbordamentos iam deixando rastros no corpo do homem que, assim, ficava com listras sinuosas.

Conta Manoel de Macedo (o autor de A Moreninha) que um viajante francês, demorando-se por alguns dias no Rio, ouviu, de patrícios, queixas dos incômodos tigres que, freqüentemente, corriam pelas ruas à noite. Algum tempo depois, veio a publicar um livro de viagens em que relatava: "Na cidade do Rio de Janeiro, capital do Império do Brasil, feras terríveis, os tigres, vagam, durante a noite, pelas ruas..."

Segundo Brasil Gerson , em sua História das Ruas do Rio de Janeiro, o local onde residiu Mr. Russel deu nome à região onde, mais tarde, foi construído o Hotel Glória.

A foto mostra, em 1903, a chaminé de uma Estação de Tratamento da City, e a ponte de atracação das chatas que eram rebocadas conduzindo para fora da barra os resíduos do tratamento das fezes da cidade. O local, hoje, é ocupado pelo SEAERJ (Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Rio de Janeiro).